Jorge de Santiago centra-se na temática dos símbolos mitológicos pré-hispânicos e sua produção traduz plenamente seu próprio pensamento e vida. Ao ouvi-lo falar do seu trabalho, entendemos porque a cosmovisão da cultura dos povos nativos mexicanos flui naturalmente, tanto no seu discurso, como nas formas que esculpe. Seu trabalho assim revela o estudo de composição e o domínio técnico, impingindo ao bloco os cortes, texturas e vasados criadores de intenso movimento, bem como de uma tensão vital que permeia a estrutura. Seu geometrismo foge do abstracionismo e nos remete a um zoomorfismo de fortes conotações culturais e americanas.
Há um vitalismo que nos leva a ingressar no universo mítico dos povos originários, não a partir de um olhar distante, de uma análise antropológica, mas nos tornando
cumplices das forças, medos e redenções que ela carrega no seu simbólico. A obra que apresenta no Simpósio faz parte de uma série de serpentes, a quarta Quetzalcóatl, que representa um dos deuses mesoamericanos, aquele responsável, entre outros significados, pela origem da humanidade e a união entre o céu e a terra. Sua Quetzalcóatl busca nos transmitir essa característica energética vital do mito por meio de uma estrutura modular de elementos geométricos e orgânicos.
Seu olhar descobridor da energia e da forma latente contida na pedra, e, a partir de poucos e criteriosos cortes, a recompõe, conquistando a monumentalidade. Kemal Tufan propositadamente se apropria das texturas, furos e lascas “acidentais” para revelar suas qualidades. A obra passa a ser um relato da história da rocha e das ações descobridoras do artista. Seu barco zoomórfico agora encravado na serra gaúcha revela-se continente das forças da natureza, indicando o lugar que nós homens podemos ocupar.
Granito, altura 190cm, 120 X 113cm, peso 7.500kg.
III Simpósio Internacional de Escultores.